segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MATERNIDADE Pra mim...Por mim...



Pra mim...

Por mim...

E eu queria tanto ter mais filhos...

Ah! Mas eu não ter força para tanto, ficaria cuidando o tempo todo.

Adoro cuidar, adoro "maternar"...

Mas não conseguiria fazer só isso, preciso dormir, amar, ficar só, trabalhar, sair...

E como conciliar a maternidade na minha geração com o "egoísmo nosso de cada dia"?

Será que minha mãe não era nada egoísta?

Ou se doou cegamente como deveriam aceitar as mulheres?

Acho que ela se doou inteira porque não tinha outros pedaços..

Pedaços individuais.

Pedaços de sonhos...

Sonhos...

Será que os filhos roubam os nossos sonhos?!

Aos domingos eu brincava na rua e a mãe fazia o almoço.

Hoje, meu domingo não tenho sequer que fazer o almoço, acordo e me pergunto:

"O que é que eu vou fazer com esses meninos hoje?"

Então é a falta da rua, que dificultou o ato de ser mãe?

É a violência, o trânsito assassino,

o medo que tirou essa geração das brincadeiras de rua...

Que mudou a maternidade?

Foi a vaidade?

Quantas estrias um corpo pode suportar quando se carrega um outro ser

dentro da barriga?

Foi o dinheiro?

Porque é mesmo que eu trabalho?

E o sono?

Como é que um serzinho tão pequeno não consegue ter prazer, relaxar e dormir?

Essa fábula que sono alimenta...

Sei não...

O meu sono desejado, cobiçado de alguns minutos depois do almoço..

Esse sim, alimenta e muito, os pneus ao redor da minha cintura...

E porque diabos o pequeno não pode dormir a noite inteira pra tornar a

maternidade mais leve.

De dia tudo é mais fácil.

De dia e de noite é uma batalha cruel, insana!!

Mas a gente continua tendo filhos...

E aquela sensação gostosa de ser um aquário

e ter um peixe dando piruetas dentro de você?

Quando a gente vê pela máquina maravilhosa que o que temos dentro é mesmo uma pessoa?

E a sensação de vácuo quando ele explode saindo de dentro da gente?

Anestesiada claro!!!

E o primeiro olhar que cruzamos, com aqueles olhinhos ainda sujos de sangue?

E alimentar o filhote com o próprio corpo?

Será que as leoas, as cadelas, as vacas

tem o prazer de saborear esse orgasmo de vida?

E o mesmo olhar quando te busca e te recebe com um sorriso.

Mesmo ainda sem sorrir com os lábios.

O sorriso do olhar?

E o cheiro?

E os sons?

E quando pronuncia mãe?

Mamãe.

Manhêêêêêêê ...

E quando fala eu te amo de graça?

E quando você se torna a mulher mais linda do mundo?

E quando só você no mundo inteirinho sabe fazer pastel e ainda trabalhar?

E quando vai peladinho para sua cama A NOITE

depois de tirar a roupa molhada de xixi e pergunta:

"Mamãe, mamãe acorda.. .você me quer? Eu te quero..."

E deita nu ao sem lado sem a menor cerimônia...

E quando o serzinho te confia seus segredos mais secretos?

Penteia seu cabelo...

Dorme abraçadinho...

Vem correndo te receber na porta da sala de aula...

A dor passa com um beijo que só você pode dar...

É incompetência minha?

Impaciência?

Devaneios?

Divagar sobre tais prodígios da natureza?

É minha impaciência ou minha poesia que exala pelos meus poros?

E pelos meus dedos ágeis no teclado...

São devaneios ou verdades?

Absolutas ou relativas?

Será mesmo verdade?

Sei que nesse momento (só poderia escrever por tanto tempo sendo tarde da noite...).

Afinal, hoje com a idade das minhas crias, eles enfim, dormem a noite.

E me resta esse horário para os meus pedaços individuais, meus sonhos...

Meu filho acordou me chamando.

Vou atendê-lo...

Não com doação cega...

Com amor e por amor...

Lúcida...



Mamaeeeee...

Já vou....


Gisele Pedrosa
23/01/07
Noite sem lua



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